Sinistralidade alta piora desempenho financeiro do setor de saúde
Na semana passada, a Série Especial sobre o Cenário da Saúde Suplementar mostrou que 2022 teve a maior retração já registrada pelas operadoras de saúde. Com resultado líquido negativo de R$ 3,4 bilhões até o terceiro trimestre, de acordo com a ANS, este cenário de dificuldades deve perdurar em 2023.
Fonte: ANS
A sinistralidade é alta em todos os segmentos da saúde. Reportagem do Valor Econômico de 10 de abril de 2023 mostra como grandes grupos estão se mobilizando para enfrentar a crise. A Hapvida, cujas ações despencaram 80% em apenas um ano, vendeu dez imóveis por R$ 1,25 bilhão. A compradora foi a família Pinheiro, controladora da operadora que também vai colocar R$ 360 milhões num “follow-on” (oferta subsequente de ações) com meta de captar entre R$ 860 milhões e R$ 1 bilhão. Oncoclínicas e Kora têm sido alvos de aquisição. A centenária seguradora Allianz, de menor porte e que detinha apenas 35 mil usuários de planos empresariais, decidiu sair do mercado de saúde. Em 2022, a seguradora apurou receita de R$ 407,5 milhões e despesas médicas de R$ 410,5 milhões. A Dasa busca capital novo para reduzir seu endividamento e está negociando a venda dos prédios de dois hospitais que podem gerar entre R$ 400 milhões e R$ 600 milhões, além de programar nova oferta de ações.
Um dos fatores que mais impactam o resultado das operadoras desde o fim da pandemia é a sinistralidade, ou seja, a relação entre o que os planos arrecadam com as mensalidades e os custos dos procedimentos.
Há casos de grandes operadoras com taxas de sinistralidade acima de 90% e mesmo acima de 100%. Isso significa que seus custos estão maiores do que suas receitas. Essa é a situação, por exemplo, da Unimed-Rio. A singular atende 728 mil clientes e apresenta sinistralidade de 109%, uma das maiores do segmento, segundo a ANS.
Taxa de sinistralidade de algumas operadoras*
Prevent Senior – 539 mil clientes – sinistralidade em 106%.
Amil – 2,6 milhões de clientes – sinistralidade em 101%.
Bradesco Saúde – 3,5 milhões de clientes – sinistralidade em 95%.
Unimed Central Nacional – 1,9 milhão de clientes – sinistralidade em 94%.
Outras operadoras:
(SulAmérica, 88%, Notre Dame, 85% e Hapvida, 77%)
*Dados da ANS
Fatores que elevam a sinistralidade
As despesas assistenciais estão mais elevadas por fatores que estão afetando o mercado da saúde em conjunto: venda de novos planos concentrada em tíquetes menores; maior uso do convênio devido ao represamento de procedimentos não realizados durante a pandemia, liberação do número de terapias pela ANS, entre outros. Tudo isso tem elevado os custos médicos e as operadoras estão com dificuldades para reajustar o preço da mensalidade do plano de saúde na mesma proporção – a inflação médica é três vezes superior à inflação geral (IPCA/IBGE).
Segundo os executivos do mercado de saúde suplementar, o alerta para os altos níveis de sinistralidade foi dado em 2022, com os procedimentos eletivos postergados pela pandemia. Contudo, o setor agora precisa lidar com as sequelas da pandemia, como nova carga de doenças e o agravamento de outras tantas causadas pela infecção do coronavírus. A Covid-19 afetou a saúde das pessoas de alguma forma, gerando maior utilização dos convênios.
Há também casos em que uma doença se agravou por falta de rastreio durante a pandemia e encontra-se em estágio avançado, o que encarece o tratamento. Outro ponto é a incorporação de novas tecnologias na saúde, processo acelerado no último ano, o que ajudou as despesas a ficarem maiores também. As mudanças na legislação também trouxeram tensão ao mercado, como a flexibilização do rol de procedimentos da ANS, que prejudica a previsibilidade das operadoras quanto aos gastos.
Até o terceiro trimestre de 2022, a taxa de sinistralidade, que mede o uso do plano de saúde, ficou em 93%, atingindo percentual recorde.
“Ainda há muita incerteza sobre o setor. Sob um olhar otimista, em dois anos, pode haver uma normalização no volume de procedimentos médicos. Mas sob um ponto de vista pessimista, temos os impactos do rol exemplificativo, da PEC da enfermagem e tributação que ainda não conseguimos mensurar com exatidão porque dependem de decisões de outras instâncias, do governo”, declarou Luis Fernando Joaquim, sócio líder da área de saúde da Deloitte ao jornal Valor Econômico no último dia 10 de abril.
Sinistralidade em alta na Unimed-BH
Nossa Cooperativa encerrou 2022 com sinistralidade de 78,59%. Mas ficamos dentro da meta, que é de menor ou igual a 80%, por conta da reversão contábil da Provisão para Benefícios de Remissão a Conceder (PBRAC). Do contrário, teríamos fechado o ano em 80,61%.
Em 2022, registramos 8,9 milhões de consultas, entre eletivas, pronto-atendimento e consultas on-line. Em relação a nossa carteira, este número representa, em média, 6 atendimentos por cliente. Também realizamos quase 34 milhões de exames; média de cinco exames por consulta e alta de 23% em relação a 2019, ano não impactado pela pandemia de Covid-19. Este crescimento é 30% maior do que o crescimento da nossa carteira de clientes.
São números muito expressivos, que impactam os resultados da assistência e os custos, conforme avalia o diretor-presidente da Unimed-BH, Frederico Peret. Uma sinistralidade alta significa gastar mais do que se arrecada, e isso leva a um desequilíbrio na cooperativa. E essa tendência continua, conforme alerta Frederico Peret.
“Já identificamos um aumento significativo da sinistralidade e estamos em alerta com esse indicador. Até agora garantimos o adicional na remuneração médica referente ao índice de sinistralidade e o NPS. No entanto, o cenário para os próximos meses é preocupante. Precisamos trabalhar com foco no uso dos nossos recursos de forma responsável, controlando os custos assistenciais. Essa é uma responsabilidade de todos nós, cooperados.”
Fontes: ANS, Diário do Comércio, Valor Econômico, Unimed-BH