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É preciso ter zelo nas finanças e ousadia para inovar

Com o tema “A realidade que nos cerca: como manter a solidez diante da complexidade do cenário econômico-financeiro”, a doutora em economia Zeina Latif conduziu o primeiro painel do 18º Encontro de Cooperados da Unimed-BH, na terça-feira.


Zeina Latif: cenário inspira otimismo cauteloso 

Ex-economista-chefe da XP Investimentos e ex-secretária de Desenvolvimento Econômico do Governo de São Paulo, Zeina Abdel Latif é sócia-diretora da Gibraltar Consulting, uma empresa de análises macroeconômicas. Considerada uma das mulheres mais influentes do mercado financeiro, é frequentemente mencionada por suas análises dos cenários doméstico e internacional, tema explorado durante sua apresentação no Encontro de Cooperados. A economista traçou um panorama da economia no Brasil e no mundo, falou sobre potencial de crescimento, reforma tributária, taxa de juros, condicionantes macroeconômicos e o cenário da saúde suplementar.

Para a economista, o mundo está mais complexo, mas ela avalia que isso não é necessariamente ruim para o Brasil. Se por um lado o comércio mundial perdeu fôlego, o país é visto como uma democracia sólida, está bem-posicionado na agenda ambiental e o consumo das famílias e o Produto Interno Bruto (PIB) têm surpreendido positivamente.

Ao seu ver, não há grandes mudanças ao compararmos o cenário econômico de 2023 com o do ano anterior, mas não há dúvidas de que estamos falando de um mundo mais conturbado. Como aponta a economista, algumas questões geopolíticas já vinham se desenhando, como a guerra comercial entre China e Estados Unidos, e a materialização dos dois conflitos (Rússia e Ucrânia e Israel e palestinos) mostra que realmente é um mundo muito mais complicado.

Internamente, ela avalia que começamos um novo governo com os desafios que já vinham sendo discutidos: preocupação com a gestão da política fiscal, necessidade de acelerar o ritmo de reformas estruturais e as várias desigualdades que temos no país. Para Zeina, o Brasil tem passado por alguns testes de maturidade e, de modo geral, encontra-se em uma condição melhor comparativamente ao cenário mundial nesse momento por estamos longe do conflito e por não termos uma dependência tão grande do comércio mundial.

Perguntada sobre como uma empresa pode garantir a sustentabilidade e a longevidade diante desse cenário de instabilidade, Zeina Latif foi taxativa: “ter muito zelo nas finanças é essencial e tem que ter um pé na ousadia, estar preparado para a inovação. O mundo está muito mais complexo. A tomada de decisão exige escutar mais o stakeholder, para as empresas entenderem o melhor caminho e agirem de forma rápida”.
 

O caminho para o reequilíbrio

Apesar do mundo complexo, Zeina Latif avalia que há razões para acreditar que não seremos engolidos nessas crises todas.

Em relação aos conflitos atuais, a economista defendeu a globalização como instrumento que trouxe muito mais riqueza para o mundo. Na sua avaliação, nos períodos de maior integração entre os países, quando há paz entre as nações, há também ganho de produtividade.
“Quando há laços comerciais, você pacifica mais as relações entre os países”.

No Brasil, a tendência é de estabilidade. “O quadro no Brasil não é ruim, é complexo. De modo geral, temos que estar preparados para as oportunidades de investimento e ter capacidade de adaptação. Precisamos diversificar exportações, diversificar parceiros comerciais e ficar atentos ao fator ambiental, uma das principais exigências dos acordos internacionais na atualidade”.
 

Taxa de juros e reforma tributária

Zeina ressaltou a resiliência da economia brasileira, mesmo diante da alta de juros, que hoje “machucam menos”. Para ela, temos potencial de crescimento baixo em relação ao mundo, mas há sinais que nos surpreendem positivamente.

Entre esses sinais estariam o aumento do número de pessoas ocupadas e o ganho em produtividade, que têm caminhado juntos, e poderiam ser percebidos como resultado das reformas estruturais realizadas em 2017, como a terceirização da atividade fim e a flexibilização da CLT.

A economista vê com bons olhos a reforma tributária proposta pelo Governo Federal, que prevê a simplificação dos impostos (a proposta unifica três tributos federais, um estadual e um municipal para criar o Imposto sobre Valor Agregado – IVA).

“Hoje o sistema gera muita distorção, o que rouba o potencial de crescimento do país. Vai ser uma simplificação muito importante, assim como os efeitos que virão juntos. Tenho um olhar otimista sobre a reforma; talvez no início seja ainda muito duro, pois teremos dois sistemas correndo em paralelo, mas eu acho que é um passo essencial para o país”.
 

Endividamento da família

Com a classe média apertada no cartão de crédito e a alta dos juros, que afeta a situação financeira de quem já está endividado, todos os setores que trabalham com consumo de massa sofrem percalços. Apesar de o nível de endividamento ter diminuído em 2023, ele ainda se encontra em um patamar muito elevado (49%), assim como o comprometimento da renda para pagamento de dívidas, hoje em 27%, segundo o Banco Central.
 

E o que mudou na saúde suplementar entre 2022 e 2023?

Para Zeina, não há novas questões, mas problemas que recrudesceram. O setor enfrenta grandes desafios, que vão desde a inflação na área de saúde, excesso de demandas que vêm do setor privado, passando por fraudes, problemas regulatórios e o alto volume de sinistro acumulado desde o fim da pandemia.

A saúde privada é, assim, duplamente afetada, por fatores específicos da área e pelas variáveis econômicas, que interferem na capacidade de compra e na necessidade de priorizar o consumo dos brasileiros, o que impacta, ao final, na contratação dos planos privados.

“Acho que devemos ter um otimismo cauteloso, mas acho que dá para ter uma visão mais construtiva do país. Particularmente, sobre a saúde, acho o modelo cooperativista um desenho muito inteligente, ainda mais para a realidade do Brasil”.

 

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