Série Especial – Cenário da Saúde Suplementar
Esta semana iniciamos uma série especial de matérias no Boletim On-line do Cooperado que vai trazer um cenário mais amplo sobre a saúde suplementar do país. São muitos os desafios e muitas as variáveis que influenciam o desempenho do setor. Assim, ao longo das próximas semanas, vamos falar sobre o desempenho econômico das operadoras de plano de saúde e dos temas que compõem seu universo, com foco na sinistralidade, judicialização, NPS e os caminhos para conter a deterioração dos números ocorrida em 2022.
Desempenho econômico-financeiro piora em 2022
Fonte: Valor Econômico – 25.01.2023
Especialistas apontam e os números indicam que 2022 foi um dos piores anos para as operadoras de plano de saúde no Brasil. O resultado líquido negativo do setor até o 3º trimestre de 2022 é R$ 2,5 bilhões. Nas operadoras médico-hospitalares, o resultado líquido negativo atingiu R$ 3,4 bilhões contra R$ 2 bilhões de lucro no mesmo período em 2021, de acordo com dados do Painel Contábil da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Já os prejuízos operacionais estão na casa dos R$ 11 bilhões e podem chegar a R$ 15 bilhões.
Como resultado, essas instituições enfrentam a maior retração já registrada. O cenário de alta de taxa de sinistralidade, aumento dos insumos, incorporação de novas tecnologias, efeitos da mudança no rol taxativo e a pressão da concorrência impacta nos custos da assistência. Soma-se a isso o aumento da demanda por procedimentos médicos, represados na pandemia.
“A saúde suplementar sofre efeitos diretos dessa escalada dos custos e o descompasso entre receitas e despesas. Os planos de saúde funcionam como caixa de ressonância de custos que incidem sobre toda a cadeia de prestação de saúde”, diz Vera Valente, diretora-executiva da entidade da ANS.
Números só voltam a melhorar a partir de 2024
Para os especialistas, este será mais um ano difícil para o setor de saúde, com margens apertadas e forte pressão entre operadoras, hospitais, clínicas, laboratórios de diagnóstico e empresas contratantes de plano de saúde no momento de aplicação dos reajustes. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Renato Casarotti, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), prevê a retomada do setor somente no próximo ano. “Estimamos que as operadoras voltem a ter rentabilidade positiva em 2024. Neste ano, esperamos que haja uma estabilização da queda, uma vez que o reajuste de 2022 foi positivo e não negativo como em 2021”.
Sinistralidade puxa os custos
As despesas médicas estão entre os principais responsáveis pelos resultados negativos das operadoras. Até o 3º trimestre, o setor registrava sinistralidade geral de 90,3 %. A mediana dos últimos doze meses (valor central de uma amostra) ficou estável em cerca de 84,5%, porém, com patamar superior ao período pré-pandemia, quando oscilou entre 80% e 82%.
"Esses números indicam que praticamente 90% do arrecadado com os planos é gasto com assistência à saúde", explica Jorge Aquino, Diretor de Normas e Habilitação das Operadoras da ANS.
De acordo com a FenaSaúde (federação que representa as operadoras) entre os fatores que também influenciam no aumento da sinistralidade estão a obrigatoriedade da oferta de tratamentos cada vez mais caros, a ocorrência de fraudes e a judicialização da saúde.
Crescimento da carteira não garante recuperação do setor em 2023
Apesar da previsão de que o mercado de planos de saúde atinja 51,5 milhões de usuários em 2023, esse aumento na quantidade de planos de saúde no país está atrelado a produtos com tíquete menor, que não compensam os elevados custos médicos, pressionando toda a cadeia de saúde. Questiona-se, ainda, se o reajuste médio de 10% previsto para o plano individual será suficiente para cobrir os gastos em 2022.
Outro fator a ser levado em conta é a taxa de desemprego, que está em 8,7%. Com este percentual, analistas do Bank of America (BofA) estimam que o crescimento geral dos beneficiários deve ser menor do que em 2022. A previsão de entrada de novos beneficiários em 2023 é de 1,1 milhão, menor que em 2022, que registrou 1,5 milhão de novos usuários.
“Assim, 2023 deve ser mais um ano de forte competição. Esperamos um ano desafiador para o setor de saúde, com riscos mais altos para operadoras devido à taxa de sinistralidade ainda pior, necessidade de preços acima da inflação e um cenário de crescimento mais fraco em relação aos beneficiários”, destaca trecho de relatório do BofA.
Na Unimed-BH
Na Unimed-BH o exercício de 2022 foi positivo graças a escolhas acertadas tomadas com o conjunto dos cooperados durante as Assembleias e a um robusto sistema de governança.
A Cooperativa teve contraprestações efetivas de 5,48 bilhões de reais. Contudo, não está imune ao que ocorre no mercado. Nossa margem Ebtida caiu em relação a 2021 (de 15,3% para 14,3%). Este percentual foi alcançado graças à reversão contábil da Provisão para Benefícios de Remissão a Conceder (PBRAC); do contrário, a diferença teria sido ainda maior, ficando em 11,7%. A PBRAC também foi responsável por alcançarmos a meta da sinistralidade. O percentual de despesas assistenciais em relação às contraprestações ficou em 78,59% com a reversão contábil. Sem ela, teríamos ficado em 80,61%, acima, portanto, da nossa meta, que é de menor ou igual a 78%.
O diretor-presidente da Unimed-BH, Frederico Peret, avalia que passamos bem por 2022 graças a nossa solidez e a escolhas responsáveis, o que possibilitou garantir resultado para a cooperativa e para os médicos. Mas alerta para o cenário que se desenha para 2023. “Este, novamente, será um ano de muita instabilidade e custos altos impactando o setor. Nossos custos assistenciais e a sinistralidade vêm crescendo mês a mês. Precisamos melhorar a nossa eficiência assistencial. Estamos investindo no processo de integração de rede para atenuar a fragmentação do cuidado, responsável em boa parte pelo desperdício de recursos. Também estamos investindo na Governança Clínica para a melhor gestão do cuidado. Nossos resultados são construídos nas nossas decisões diárias. Somente juntos, com o compromisso de todos, vamos poder seguir de forma sustentável”.
Fontes:
Valor Econômico. Painel Contábil ANS. Diário do Comércio. FenaSaúde. Unimed-BH