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Cidades brasileiras confirmam circulação comunitária da variante Delta

A variante Delta, cepa do novo coronavírus identificada inicialmente na Índia e que já se espalhou por 111 países, alcançou a circulação comunitária em algumas cidades do Brasil. Na última sexta-feira, 16/7, Rio de Janeiro e São Paulo confirmaram novos casos de pessoas infectadas com a variante. Segundo o infectologista cooperado da Unimed-BH e integrante do Comitê de Enfrentamento à COVID-19 de Belo Horizonte, Estevão Urbano, é possível que já tenhamos a circulação comunitária dessa variante em algumas partes do país.

“A transmissão comunitária ainda não é uma realidade estatística e oficial, pois não há cidades com 50 casos diagnosticados, condição técnica para essa classificação. No entanto, quando começam a aparecer os primeiros casos, possivelmente esse número já é maior”, explica o infectologista.

Até o dia 19 de julho, o Brasil havia registrado 97 infecções provocadas pela variante Delta, que resultaram em cinco óbitos, segundo dados do Ministério da Saúde. O Rio de Janeiro é o estado com maior número de confirmações (74), seguido por Paraná (9), Maranhão (6), São Paulo (3), Pernambuco (2), Goiás (2) e Minas Gerais (1), segundo última atualização do governo.


Comportamento imprevisível

Novas variantes já foram identificadas no Brasil, caso da Alfa, surgida no Reino Unido, e da Beta, na África do Sul. Porém, a variante originária no Norte do país, chamada Gama, acabou interrompendo a disseminação das demais. Apesar desse histórico, o especialista cooperado da Unimed-BH afirma ser imprevisível o rumo que a variante Delta tomará.

“As variantes britânica e sul-africana foram freadas pela variante Gama, que acabou sendo uma cepa predominante no Brasil, respondendo hoje por mais de 90% dos novos casos. A dúvida é: a variante Delta é mais adaptável e vai superar a variante Gama ou vai haver um comportamento parecido com as outras? É absolutamente imprevisível”, pondera Estevão Urbano.


Novos riscos

A grande preocupação com novas variantes do coronavírus é que surja alguma mutação capaz de furar a proteção proporcionada pelas vacinas hoje disponíveis. Estudos realizados no Reino Unido comprovaram que a taxa de transmissão da variante Delta é cerca de 60% maior do que a variante Alfa, sendo que esta última já tinha uma taxa de transmissão 50% maior em comparação com a cepa original do coronavírus.

Em outra pesquisa, publicada com participação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi detectado que a variante Delta pode aumentar o risco de reinfecções. O estudo indica que o soro de pessoas previamente infectadas por outras cepas é até 11 vezes menos potente contra essa variante viral.

“A Delta traz como maior risco a possibilidade de causar um repique na pandemia. Como ela é mais transmissível e nós não sabemos exatamente qual é a proteção que a vacinação ou a infecção prévia confere contra ela, sempre há um risco de assistirmos a um aumento do número de casos, internações e óbitos”, analisa Estevão Urbano.
 

A mutação gerou uma segunda onda mortal de infecções na Índia, país onde ela foi identificada em outubro de 2020. Ela também se tornou predominante no Reino Unido e em Portugal.

Um estudo realizado pelo Ministério da Saúde de Israel, e também noticiado na imprensa mundial, mostrou que a variante Delta reduziu a eficácia da vacina da Pfizer de 95% para 64%, tratando-se da prevenção de infecções. No entanto, a eficácia para se evitar quadros graves se manteve. "A gente não sabe se isso será reproduzível no Brasil, até porque temos também as vacinas Janssen, CoronaVac e AstraZeneca. Mas, não deixa de ser animador que essa cepa foi contida, pelo menos para casos graves, nos indivíduos vacinados”, ressalta o infectologista.


Manter os cuidados

Segundo Estevão Urbano, a pandemia está longe de ficar para trás. Ele relembra que o Brasil viveu um grande choque quando a média móvel alcançou 1.000 mortes por dia.  “Nós ainda estamos com 1.200 mortes diárias na média móvel. Estamos com uma taxa de transmissão alta. Belo Horizonte, por exemplo, está com 200 casos por 100 mil habitantes”, alerta o especialista. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os casos de COVID-19 no mundo cresceram continuamente nas últimas quatro semanas.

O especialista acrescenta que a melhora dos indicadores verificada recentemente não significa que a pandemia ficou para trás. “Temos esse problema das variantes, não sabemos como elas se comportarão e se poderão causar um recrudescimento dos casos. Ainda é cedo para comemorar. O que há é uma esperança, não o fim da pandemia”, conclui Estevão Urbano.

 

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